Hemodiálise

Assistentes Sociais – o Suporte que faz a diferença

Quando comecei os tratamentos de diálise nunca pensei o quão importante seria o papel de uma assistente social na minha vida. Foi graças ao seu apoio que percebi que não precisava de ter uma vida limitada e que descobri que até era possível viajar. Poder concretizar os meus projetos pessoais e familiares deu-me logo outra perspetiva. Incentivou-me até a ser um pouco audaz, dado que me lancei no ano passado a viajar pelo mundo com a minha família, algo que agora naturalmente não é possível. Tudo era orientado e organizado pela assistente social da minha clínica. Por outro lado, as assistentes sociais com que me cruzei ajudaram-me sempre a esclarecer dúvidas e a encaminhar temas relacionados com aspeto práticos, como os benefícios sociais e direitos que nos assistem, assim como outros mais complexos como a apoio no âmbito da família. 

Porque me senti sempre apoiado e orientado pelas assistentes sociais, decidi colocar algumas questões para que todos possam conhecer melhor em que consiste este trabalho. A DrªMarta Olim tem-me convidado para alguns Lives na Diaverum sobre vários temas. Hoje fui eu a desafia-la a partilhar connosco o seu saber. 

Marta Olim

Assistente Social desde 2002. Iniciou o seu percurso no Hospital de Santa Cruz no Serviço de Nefrologia e Medicina Interna. Trabalhou na Cirurgia desse mesmo hospital e na Cardiologia Pediátrica.  Trabalhou igualmente na Urgencia do CHLO.

Mestrado em Serviço Social e é Terapeuta Familiar e conjugal, ambas as dissertações na área da doença renal, mais concretamente no impacto da doença no Self e na familia.

1 – Qual é a função e a importância de uma assistente social na vida de um doente renal.

A/O assistente social é alguém que está absolutamente focado no ser humano, nas suas potencialidades e que, através de uma relação de compreensão e de compromisso mutuo, tenta apoiar ou ajudar alguém numa condição de vida mais frágil.  Nas clinicas Diaverum, o assistente social faz parte integrante da equipa interdisciplinar de prestação de cuidados e tem como principal missão apoiar cada pessoa com doença renal em tratamento de hemodialise e sua família na capacitação para uma integração o mais positiva possível da doença e tratamento, ajudando-os a enfrentar as mudanças provocadas pela nova condição de vida, promovendo a integridade física, psíquica e emocional dos mesmos

2 – Dada a sua experiência quais são os traços principais da doença que são orientadores para um apoio psicossocial

Esta doença é uma doença imprevisível e também um pouco intermitente, no sentido em que de um momento para o outro, a pessoa pode ser confrontada com uma intercorrência que não previu e isso pode ser de alguma forma desorganizador da sua vida, causando alguma instabilidade psicoemocional.
A pessoa pode também nestas circunstancias, pensar que é difícil programar e fazer alguns projetos, o que pode levar a alguma insegurança na gestão da sua vida quotidiana. Este sentimento de pouco controle sobre aquilo que é o seu dia a dia pode facilmente originar oscilações de humor, stress, e ambivalência no que realmente se quer viver e sentir. Todo este cenário pode assumir contornos mais desafiadores para a pessoa que está a vivenciar este tipo de situação, até porque outros problemas poderão surgir e potenciar dificuldades de ajustamento da pessoa à doença/tratamento e por sua vez se a pessoa tiver dificuldades em adaptar-se a esta nova realidade.
Nesta altura é importante a pessoa beneficiar de um acompanhamento por parte do assistente social, que o vai ajudar a colocar a “doença no seu lugar”, e ajuda-lo a posicionar-se de forma mais positiva nesta nova condição de vida.
Vai também apoia-lo na tomada decisão que terá que ser consciente e informada e ajudá-lo-á a acionar os recursos, respostas sociais mais ajustadas às suas necessidades.

3 – Como é que vai evoluindo a relação assistente social-doente ao longo dos tratamentos. 

 Penso que a relação que se estabelece é uma relação de compromisso e de compreensão mutua, onde ambas as partes se entregam num processo com vista a uma mudança social.
Como em qualquer caminho que se faz com alguém, passa-se sempre por diversas fases, mas o objetivo principal, é que nunca se perca a segurança e a confiança depositada no processo, independentemente dos avanços e recuos. 

4 – Quais são as principais preocupações que assolam os doentes renais.

A doença interrompe aquilo que cada um tinha projetado para a sua vida. Uma das preocupações tem a ver com essa gestão das expectativas, suas e as dos outros. Será que vou conseguir trabalhar? Será que vou conseguir superar este tratamento sem perdas de autonomia/funcionalidade? Será que vou conseguir acompanhar a minha família nos seus projetos pessoais? Será que poderei ir de ferias?
Há um mundo de interrogações, duvidas, e inquietações que assolam estas pessoas.
A imprevisibilidade da doença reforça ainda mais essas duvidas face aquilo que poderá ser o futuro de cada um?
Também se confrontam com o medo, medo persistente de agravar a sua condição e ficarem mais dependentes ou mesmo morrer.

 5 – Como pode um assistente social contribuir para mudar a perspetiva de a vida de um doente.

Cada pessoa terá as suas estratégias de ajustamento e superação em relação à forma como gere a sua vida.
Mas há um principio importante donde se deve partir: a pessoa não é a doença! E a principal responsável pela forma como vai vivenciar o tratamento! É importante a pessoa ter a noção e sentir que é muito mais que a sua doença e questionar-se até onde vai colocar a doença na sua vida, qual o espaço que acha que ela merece.
Estas reflexões são fundamentais para se redefinir o projecto de vida.
O assistente social é alguém que está próximo da pessoa que realiza este tratamento, e que reforça continuamente as suas competências e potencialidade de forma a que esta integre esta nova condição de vida, o mais positivamente possível. O assistente social é alguém que ajuda a redescobrir recursos internos e encoraja e orienta a pessoa a tomar decisões informadas e responsáveis para que o mesmo tenha uma vida plena. Muitas vezes complementamos este trabalho ao nível dos recursos externos, com articulações com a comunidade, em que acionamos recursos externos sempre com o objetivo de minimizar o impacto da doença e na melhoria da condição de vida daquela pessoa em particular.

6 – Os doentes renais têm que ter liberdade também para fazer os seus projetos como simplesmente viajar, mas às vezes deparam-se com famílias super protetoras. Que conselhos se podem dar aos familiares dos doentes renais para mudar um pouco esta mentalidade?

 Este é também um momento difícil para as famílias.
Trata-se igualmente de um momento de crise também para as famílias, estas são postas à prova. Costumo dizer que o rim dói a todos. 
Conforme a evolução e prognóstico da doença família também tem que se reajustar a uma nova condição de vida muito exigente, que inevitavelmente irá abalar a sua estrutura e atribuir a esta novos significados e representações.
Muitas famílias adotam comportamentos mais superprotectores o que pode por em causa a autonomia da pessoa que faz tratamento. Outros podem sentir-se mais culpados, ou sentirem alguma ambiguidade nos cuidados (será que estou a fazer tudo bem?), e terem dificuldade em delegar a continuidade de cuidados.
Enquanto assistentes sociais também intervimos e acompanhamento as famílias, até porque as famílias têm necessidades diferentes das pessoas que têm esta doença e realizam tratamento.
Enquanto assistentes sociais também intervimos e acompanhamento as famílias, até porque as famílias têm necessidades diferentes das pessoas que têm esta doença e realizam tratamento.
Temos nesta intervenção dar a segurança e o apoio necessário que as famílias merecem e ajuda-las a superar os seus próprios desafios. Não existem conselhos certos ou errados, existe um trabalho em profundidade também com as famílias de forma a responder as suas reais necessidades.

 

Share the love:

5 thoughts on “Assistentes Sociais – o Suporte que faz a diferença

    1. Já o contrário acontece Bastante,basta Vermos, por exemplo, os postos de trabalho que são ocupados indevidamente por psicólogos, no âmbito da intervenção Social, do suporte social e do apoio Psicossocial, tudo campos de trabalho do Serviço Social.

  1. Nesta foto é aminha bete, que sempre adorou essa profissão, com o fim de poder ajudar, quem precisa.Sabe que UM doente, em qualquer das circunstâncias, umas mais graves, que outras, precisa ter acompanhamento e seguir os conselhos e medicação, que LHE são indicados para melhor do problema em que vive.!

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *